
Síndrome de CUP
Nesta secção, pode encontrar informações úteis para obter mais conhecimentos sobre o CUP (cancro primário oculto), incluindo a epidemiologia, patogénese, diagnóstico e opções terapêuticas.
Introdução
Qual é a definição de CUP?
A síndrome de CUP (cancro primário oculto) é definida como um cancro verificado a nível histológico e clínico para o qual apenas as metástases são encontradas na altura do diagnóstico, mas não é detetável nenhum tumor primário.1

Qual a frequência de CUP?
A síndrome de CUP representa aproximadamente 3–5% de todos os casos de cancro.1,2

1. Fizazi K et al. Ann Oncol 2015; (26 suppl 5): v133–8.
2. Stella GM et al. J Transl Med 2012; 10: 12.
Patogénese
Como se e desenvolve o CUP?
Existem várias hipóteses relativas à etiologia e patogénese. Uma explicação possível para o CUP é a “teoria das células estaminais” do cancro.1–3 A divisão assíncrona das células estaminais pré-malignas ou malignas pode produzir células-filhas que não crescem localmente, mas podem metastizar. Tendo em consideração o microambiente favorável destas metástases, estas podem espalhar-se para outro local, mesmo que não se desenvolva nenhum tumor no tecido de origem.4 Esta hipótese é suportada pela genómica do tumor, com a evolução clonal documentada em vários tipos de cancro (por ex., cancro do pulmão).5

1. Aktipis CA et al. Nat Rev Cancer 2013; 13: 883–92.
2. Visvader JE. Nature 2011; 469: 314–22.
3. Lee G et al. J Stem Cell Res Ther 2016; 6: 363.
4. López-Lázaro M. Oncoscience 2015; 2: 467–75.
5. Jamal-Hanjani M et al. N Engl J Med 2017; 376: 2109–21.
Fatores de risco
Quais são os potenciais fatores de risco para o CUP?
Os potenciais fatores de risco que suportam o desenvolvimento da síndrome de CUP incluem:1–3
- Diabetes mellitus
- Tabagismor
- Obesidade
- História familiar de cancro

1. Mnatsakanyan E et al. Cancer causes & control 2014; 25: 747–57.
2. Robert Koch Institut (2016) GEKID Publication. Disponível em: www.gekid.de (último acesso em março de 2019).
3. Hemminki K et al. Int J Cancer 2015; 136: 246–47.
Características clínicas
Quais são as características clínicas da síndrome de CUP?
A síndrome de CUP pode apresentar um panorama muito complexo. É possível distinguir uma série de manifestações heterogéneas, mas nenhuma foi identificada como exclusivamente específica da síndrome de CUP.1–3

De que forma é categorizada a síndrome de CUP?
O CUP tem diferentes subconjuntos, cuja identificação pode implicar um tratamento específico. Com base na histologia, existem 5 subconjuntos diferentes.4–6

1. Cancer.net. Unknown Primary: Symptoms and Signs. Disponível em: www.cancer.net/cancer-types/unknown-primary/symptoms-and-signs (último acesso em março de 2019).
2. Mayo Clinic Carcinoma of unknown primary. Disponível em: www.mayoclinic.org/diseases-conditions/carcinoma-unknown-primary/symptoms-causes/syc-20370683 (último acesso em março de 2019).
3. The University of Texas MD Anderson Cancer Center. Cancer of Unknown Primary. Disponível em: www.mdanderson.org/cancer-types/cancer-of-unknown-primary.html (último acesso em março de 2019).
4. Stella GM et al. J Transl Med 2012; 10: 12.
5. Pavlidis N and Pentheroudakis G. Lancet 2012; 379: 1428–35.
6. Ettinger DS et al. NCCN Guidelines version 2.2019.
Diagnóstico
Como é diagnosticado o CUP?
A heterogeneidade da síndrome de CUP torna o diagnóstico desafiante. Embora o prognóstico para doentes com CUP seja geralmente desfavorável, o diagnóstico apropriado pode ajudar a identificar doentes que possam ter um prognóstico favorável. Este subconjunto de doentes recebe a terapêutica de acordo com o local sugerido de origem do tumor.1

O que recomendam as guidelines para o diagnóstico do CUP?
A Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO - European Society for Medical Oncology) recomenda o seguinte trabalho diagnóstico para doentes com suspeita de CUP:1
![Síndrome de CUP – programa de diagnóstico base em todos os doentes: historial específico (tumores e cirurgias anteriores, dores, anomalias, nevos excisados, adenomas [cólon], tabagismo); exame geral minucioso (pele, garganta, mama, próstata, reto, testículos, gânglios linfáticosORL e exame ginecológico); hemograma total, química sanguínea; TC abdominal, pélvica e ao tórax; mamografia em doentes do sexo feminino; – programa em subconjuntos de CUP: IRM de mama em doentes do sexo feminino; determinação de α-fetoproteína, HCG, CgA, PSA em doentes do sexo masculino; endoscopia/ultrassom; TC/(FDG-)PET; octreoscan (cintigrafia de recetores da somatostatina) e CgA; – grupos-alvo: mulheres com metástases nos gânglios linfáticos axilares; homens com carcinoma NUT, metástases ósseas adenocarcinomatosas; dependendo dos sinais, sintomas e resultados laboratoriais; doentes com carcinoma de células escamosas cervicais; doentes com tumores neuroendócrinos; CgA: cromogranina A; TC: tomografia computorizada; ENT: ouvido, nariz, garganta; FDG: fluorodeoxiglucose; HCG: gonadotrofina coriónica humana; IRM: imagiologia por ressonância magnética; NUT: proteína nuclear nos testículos; PET: tomografia por emissão de positrões; PSA: antigénio específico da próstata.](https://roche-h.assetsadobe2.com/is/image/content/dam/cup-syndrome/pt_pt/assets/graphics/cup-syndrome/RPH_005%20HCP_CUP_V08_09.png?wid=600&fit=constrain,0&fmt=png-alpha 600w, https://roche-h.assetsadobe2.com/is/image/content/dam/cup-syndrome/pt_pt/assets/graphics/cup-syndrome/RPH_005%20HCP_CUP_V08_09.png?wid=1200&fit=constrain,0&fmt=png-alpha 1200w, https://roche-h.assetsadobe2.com/is/image/content/dam/cup-syndrome/pt_pt/assets/graphics/cup-syndrome/RPH_005%20HCP_CUP_V08_09.png?wid=1920&fit=constrain,0&fmt=png-alpha 1920w)
Qual é a função do perfil molecular do tumo no CUP?
As técnicas moleculares de perfil do tumor, tais como o perfil genómico abrangente (CGP) possibilitam identificar alterações clinicamente relevantes no CUP. Com base na tecnologia de sequenciação de nova geração (NGS), o CGP deteta variantes conhecidas e novas nas quatro principais classes de alterações genómicas num grande subconjunto de genes relacionados com o cancro e identifica as assinaturas genómicas, ou seja, a carga mutacional do tumor (TMB) e a instabilidade microssatélite (MSI).2–7

Exemplo prático clínico de CUP
Uma doente do sexo feminino com 53 anos apresentou-se com dispneia e uma massa subcutânea do tamanho de uma bola de golfe no bíceps direito com eritema da pele sobrejacente. A PET e a TC mostraram várias massas metabolicamente ativas em ambos os pulmões.
Em vez de submeter a doente ao risco de uma biopsia pulmonar, foi decidido fazer uma biópsia à lesão cutânea no braço e realizar o CGP. Em vez do cancro do pulmão de que se suspeitava, o CGP identificou uma alteração no gene de fusão EML4-ALK.8

1. Fizazi K et al. Ann Oncol 2015; (26 suppl 5): v133–8.
2. Frampton GM et al. Nat biotechnol 2013; 31: 1023–31.
3. He J et al. Blood 2016; 127: 3004–14.
4. Gagan J and van Allen EM. Genome Med 2015; 7: 80.
5. Rozenblum AB et al. J Thorac Oncol 2017; 12: 258–68.
6. Suh JH et al. Oncologist 2016; 21: 684–91.
7. NCCN Clinical Practice Guidelines in Oncology. Non-Small Lung Cancer. V.2.2019. Disponível em: www.nccn.org/professionals/physician_gls/recently_updated.aspx (último acesso em março de 2019).
8. Chung J et al. Case Report Oncol 2014; 7: 628–82.
Prognóstico
Qual é o prognóstico para doentes com CUP?
Apenas 15–20% dos doentes com CUP têm um prognóstico favorável com base na sua classificação clinicopatológica. Estes doentes têm tumores potencialmente curáveis e sensíveis à quimioterapia e podem alcançar um controlo da doença a longo prazo com uma abordagem multidisciplinar.1
A maioria dos doentes com CUP (80–85%) apresentam um prognóstico desfavorável, o que significa que a resposta ao tratamento é fraca e a sobrevivência global mediana é geralmente inferior a um ano.1

Taxa de sobrevivência de doentes com CUP do subconjunto com prognóstico desfavorável
As taxas de sobrevivência para doentes com prognóstico desfavorável são baixas:2
- 1 ano: 38%
- 5 anos: 10%
- 10 anos: 8%

1. Fizazi K et al. Ann Oncol 2015; (26 suppl 5): v133–8.
2. Greco FA and Hainsworth JD (2011) Cancer of unknown primary site, DeVita VT Jr., Hellman S, Rosenberg SA (eds) Cancer: Principles and Practice of Oncology (9th ed) Philadelphia, PA, JB Lippincott: 2033–51.
Tratamento
De que forma é gerida clinicamente o CUP?
O tratamento deve ser personalizado para cada doente, de acordo com as características clinicopatológicas e subsequente classificação do prognóstico. Dez a quinze por cento dos doentes com CUP, com prognóstico favorável, devem ser tratados de forma semelhante aos doentes com metástases dos tumores primários conhecidos equivalentes. Os doentes com perfis de risco desfavoráveis, atualmente, têm prognóstico desfavorável apesar do tratamento com diferentes combinações de quimioterapia em ensaios clínicos.1
A figura apresenta uma proposta de gestão clínica dos doentes com CUP, incluindo a atribuição a subconjuntos definidos, a exclusão de neoplasias não associadas ao CUP e a utilização de parâmetros de prognóstico:1

Opções de tratamento em desenvolvimento para doentes com CUP
Nos últimos anos, a quimioterapia à base de platina foi complementada por duas opções adicionais, conforme mostrado na imagem no lado direito.2–9

1. Fizazi K et al. Ann Oncol 2015; (26 suppl 5): v133–8.
2. Hainsworth JD and Greco FA. ASCO educational book 2018.
3. Moran S et al. Lancet Oncol 2016; 17: 1386–95.
4. Greco FA et al. Ann Oncol 2012; 23: 298–304.
5. Ross JS et al. JAMA Oncol 2015; 1: 40–9.
6. Subbiah IM et al. Oncoscience 2017; 4: 47–56.
7. Varghese AM et al. Ann Oncol 2017; 28: 3015–21.
8. Kato S et al. Cancer Res 2017; 77: 4238–46.
9. Krämer A et al. J Clin Oncol 2018; 36: 15_suppl e24162.